Quando criança, no interior, me deitava na grama todos os dias às 18h para ver o único avião que tinha a região como rota. Um avião Bandeirante que seguia para o Mato Grosso.
Me imaginava nele indo para qualquer lugar do mundo.
Nunca pensei que um dia viajaria tanto. Correr o mundo provando vinhos, conhecendo lugares incríveis e pessoas interessantes. Pra todo mundo que conto isso a primeira reação é “Nossa queria seu emprego”.
Sempre vem uma imagem glamorosa, confesso que realmente é muito bom, porém, como tudo, tem a parte ruim. Aproveito essa coluna pra contar um pouco do que é ser um caçador de vinhos, as glórias, experiências e perrengues!
Rodei o mundo dos vinhos por várias vezes, provei cerca de 2.500 vinhos por ano e selecionei milhares de vinhos para o mercado no Brasil. Muitas horas de voo, hospedagem em hotéis no topo de Colina no Piemonte com direito a vertical de Barolos, restaurantes estrelados Michelin, a hospedaria em casa de vinicultores, lugares bucólicos, mas as vezes a roupa de cama de 200 anos. Você vai do luxo ao simples no mesmo dia.
Voos cancelados, malas extraviadas, três dias no calor da Puglia no verão com a mesma roupa e para comprar novas não é fácil, principalmente para mim que sou gigante. Pra compensar, churrasco na savana da África do Sul, inauguração de Hotel dentro da galeria Vittorio Emanuelle em Milão, baladas nas vinícolas em Jerez, hospedagem em Châteaux centenários, tipo conto de fadas com caves históricas.
Mas vamos ao “hunting” de vinhos, selecionar vinhos para diversos paladares, você precisa estar antenado, participar de feiras internacionais, ter principalmente relacionamento com produtores. Se antecipar ao que será consumido, ficar ligado no que será tendência! Entender de vinhos nesse caso é essencial, mas saber se relacionar é primordial!
Entender os costumes locais, política, atualidades, o que está passando no país, na região. Pois vinho sempre acaba na mesa com bate papo, aí saem os melhores negócios e as melhores descobertas.
Falando em relacionamento, uma vez na Austrália, “sofri” uma “desarmonização” incrível (risos). Tínhamos fechado uma negociação bárbara, o produtor era metido a chef e insistiu para provarmos sua especialidade, canguru ao molho de Shiraz.
Ficava enrolando na boca e não conseguia engolir, não tinha onde cuspir…foi a coisa mais horrível que já provei!! Mentira, posso fazer uma lista de coisas que tive que provar pelo mundo em prol do bom relacionamento.
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Saúde!
