• A natureza sorri de volta

    por TodoVino
    A natureza sorri de volta

    Começou a colheita das uvas na Europa! Nossos especialistas explicam como funciona o ciclo da uva e como este fenômeno ocorre em uma região em particular, a Sicília, berço da vinícola Planeta.

    A TodoVino – loja online de vinho, cerveja e destilados – compartilha o conhecimento de nossos especialistas sobre o início da colheita de uvas viníferas na Europa, a chamada “vindima”.

    Depois de mais de quatro meses de uma pandemia do novo coronavírus que abalou o mundo, a natureza volta a nos brindar com os seus frutos. Tradicionalmente, setembro costuma ser um mês de festas na Europa, com o início da colheita de uvas viníferas – aquelas que se transformarão em vinhos de celebração da vida.

    Em qualquer grade de ciências do 1º grau se aprende o ciclo das plantas de acordo com as estações do ano. A videira, por ser uma cultura perene e, via de regra, anual (produz uma vez ao ano, salvo exceções como no nordeste brasileiro) acompanha as quatro temporadas: dormência no inverno, brotação e florescência na primavera, formação e amadurecimento dos frutos no verão e fim da frutificação e queda das folhas no outono. Isto também explica um dos grandes desafios do mundo do vinho. A qualidade e expressão da fruta pode oscilar levemente ano a ano em função do clima em cada estação; por conseqüência, os vinhos também podem ter oscilações sutis a cada ano. Isto faz parte do chamado “terroir”, palavra francesa que engloba todas as características que um lugar e uma forma de fazer exercem sobre o vinho. Assim, clima, tipo de solo, ondulação do terreno, exposição solar e forma de cultivo e vinificação formam um DNA que é coerente como o vinho se manifesta na taça. Mas isto não deve ser levado de forma paranóica, a ponto de tentar adivinhar às cegas (sem ver o rótulo), qual a região de origem, variedade de uva, safra e produtor do vinho.

    Boas uvas, grandes vinhos

    No hemisfério norte estamos saindo do verão e no caminho para o outono, portanto, a celebrada época da colheita das uvas. Embora seja uma temporada das mais belas para curtir a paisagem de um vinhedo, com os cachos bem formados, é uma das mais difíceis para se visitar vinícolas. Vinícolas pequenas em especial estão com todos os esforços concentrados na tarefa que vai definir boa parte da qualidade do produto que dará a renda de um ano inteiro. Aqui vale a máxima que um grande vinho só nasce com boas uvas.

    Assim, fica claro a importância de se escolher o ponto ideal para a colheita. Em geral uvas brancas costumam ser colhidas antes que tintas (como sempre no mundo do vinho existem exceções). Para escolher o ponto de uva branca basicamente se observa o equilíbrio entre o açúcar que se transformará em álcool e a acidez. As duas curvas caminham em sentidos opostos: enquanto o açúcar cresce ao longo do ciclo de maturação, a acidez cai. Colheita muito cedo significará vinho muito ácido e magro, enquanto uma colheita tardia implicará em um vinho alcoólico e sem frescor, difícil de se beber. No caso dos tintos há que se observar ainda os taninos aportados pelas cascas das uvas. Estes compostos antioxidantes, que ajudam a preservar o vinho e a nossa saúde (quando consumido com moderação), também possuem uma curva própria de amadurecimento, e quando verdes são adstringentes e amargos, mas quando maduros dão textura e estrutura ao vinho. Cabe ao viticultor (que cuida do campo) e ao enólogo (que cuida da transformação da uva em vinho) acompanharem o ritmo de maturação de todos estes (e muitos outros na realidade) componentes para decidir o melhor momento para colher as uvas. Para ter um cenário ainda mais desafiador, considere que uma vinícola pode ter mais de uma dezena de variedades de uvas plantadas e centenas de parcelas de vinhedos, onde cada um trabalha em um ritmo diferente. É um processo sem atalhos e de muita observação.

    Mudanças climáticas

    Uma questão contemporânea que tem influenciado na viticultura é o fenômeno da mudança climática. Os extremos climáticos têm afetado muitas regiões tradicionais europeias, como inundações em Bordeaux, geadas fora de época na Borgonha ou calor em Champagne, por exemplo. Muitas regiões estão vendo agora em 2020 a colheita se antecipar em duas e até três semanas se comparado à média histórica. A forma de se plantar a videira, quais variedades plantar e onde plantar está mudando em função do clima.

    Planeta, uma referência na Sicília e na Europa

    Veja o caso da vinícola Planeta, referência entre as vinícolas sicilianas. Um dos caminhos para contornar os problemas das mudanças climáticas é apostar em variedades viníferas autóctones, que estão bem adaptadas às condições de seu berço original e tendem a suportar melhor as instabilidades. Diego Planeta, atual comandante da vinícola cuja família está no setor há mais de 500 anos (sim, quinhentos) através de 17 gerações da família Planeta, tem em sua linha mais consistente, La Segreta, participação importante destas variedades locais. Na versão tinta de La Segreta, a Nero d’Avola é a protagonista do blend, e marca o estilo cheio de frutas negras e maduras e com taninos bastante redondos. Já no La Segreta Bianco a variedade predominante é a Grecanico, também conhecida como Garganega no norte da Itália. A característica principal desta variedade é que perde pouca acidez durante seu amadurecimento, gerando um vinho bastante frutado (notas de frutas tropicais como abacaxi e papaia) mas com acidez o bastante para mantê-lo fácil de se beber.  Outro caso interessante da vinícola Planeta está no vulcão Etna. Como se sabe o clima siciliano pode ser tórrido em algumas épocas, influenciado pelos ventos saarianos. Além de recorrer a algumas variedades locais, outro caminho está na busca de zonas com clima mais fresco para o cultivo da videira. As elevadas altitudes das encostas do vulcão Etna é uma das opções que Planeta aposta. Nesta zona a variedade Nerello Mascalese é capaz de produzir vinhos com muita elegância, por vezes comparados às expressões da Pinot Noir (clássica da Borgonha) ou da Nebbiolo (clássica do Piemonte). O Planeta Etna Rosso é um tinto claro, repleto de notas de frutas vermelhas frescas, flores, ervas e com boca dominada pelo frescor. Um estilo que se contrapõe aos cheios Nero d’Avola e que são produzidos em regiões vizinhas, apenas em função da mudança do terroir.

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